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Comportamento canino.

Os cães tem natureza gregária, afiliativa, cooperativa e afetiva. São animais extremamente comunicativos e muito sociais. Estabelecem vínculos afetivos com o grupo em maior grau que com o ambiente em que vivem, aspecto que os diferencia dos felinos (Calderon ET al., 2008). Durante seu desenvolvimento psico-biológico, o cão apresenta períodos distintos (neonatal, transição, socialização e juvenil), relacionados principalmente ao primeiro ano de vida do animal.

O período neonatal , que ocorre até os primeiros doze dias de vida do cão, está relacionado com a vida junto a ninhada (irmãos) e aos cuidados da mãe. Nesse período o filhote apresenta imaturidade de sistemas fisiológicos básicos, órgãos sensoriais, e as limitações motoras e perceptivas, e seus comportamentos são, normalmente, reflexos (Faraco e Soares, 2013). De acordo com Gazzano et al. (2008) e Battaglia (2009), é essencial que nessa fase o filhote mantenha contato com a mãe e o restante da ninhada, e que uma manipulação delicada a partir do terceiro dia de vida ocorra, para que o filhote seja menos afetado por situações de estresse.

O período de transição , que se inicia no 13° e se estende até o 21° dias de idade, é caracterizado por desenvolvimento de órgãos sensórios, como abertura dos olhos e do canal auricular.

Os comportamentos da fase neonatal desaparecem, inicia-se um comportamento exploratório, ainda que tímido, e habilidades motoras começam a se desenvolver, como caminhar (Faraco e Soares, 2013). O período de socialização primário acontece da terceira semana ao terceiro mês de vida. Esse período é crucial na vida dos cães, pois experiências ocorridas nesta fase irão determinar padrões de comportamento na vida adulta. Nesta fase o filhote aprende a diferenciar estímulos ambientais benignos e ameaçadores, adquire habilidades comunicativas e de organização social, que são essenciais para a capacidade de adaptação e Soares, 2013). O sistema nervoso sensorial do animal está sensível e, portanto, é o período em que ele aprende a ser sociável com os animais de sua espécie, e de outras espécies também, como o ser humano. (Calderon ET al., 2008). Neste período o animal passa ainda por processos de identificação, reconhecimento, localização e habituação aos diversos estímulos sociais e ambientais, essenciais para que esse filhote seja capaz de se adaptar e interagir com o entorno e outros animais. Recomenda-se que nessa fase se inicie a educação dos filhotes, pois o processo de habituação ajusta os comportamentos desse animal ao ambiente. Se esse período não ocorrer de forma adequada, o animal poderá desenvolver problemas de comportamento, como medo e agressividade (Faraco e Soares, 2013). A agressividade é um comportamento social normal presente nos cães, que decorrem de processos dinâmicos e sempre de maneira contextualizada

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Dentro deste raciocínio, há diferentes tipos de agressividade podendo ser ela: ofensiva ou defensiva (modulada pelas emoções) e predatória (modula pelo instinto). No sentido operativo estes comportamentos tem que ser avaliados no contexto (dentro ou fora do canil, da casa), o alvo da agressão (pessoas ou animais) e a sequencia do comportamento agressivo (linguagem corporal/ tipo de agressão). Além disso, é preciso avaliar clinicamente os animais para descartar uma causa orgânica: dor, alteração neurossensorial, doença endócrina e metabólica (Calderon et al., 2008).

O período juvenil acontece da décima segunda semana até a puberdade, quando ocorre a maturação sexual. É um período caracterizado principalmente pelo amadurecimento das capacidades motoras, e pelo processo de inserção social. Nesta fase, é desejável que se ofereça a esse animal um ambiente enriquecido, para que ele possa desenvolver melhor sua capacidade cognitiva (Faraco e Soares, 2013).

O comportamento alimentar dos cães apresenta familiaridades com seus ancestrais e com animais silvestres da mesma família, como os lobos. Apresentam grande flexibilidade alimentar, de acordo com o que tem disponível para sua alimentação. Assim como os lobos, ingerem grande quantidade de alimento de uma vez só, motivo este que leva o cão a ingerir muita ração quando esta é oferecida em excesso. Outro fator que influencia na alimentação é a hierarquia do grupo de cães: cães com posições superiores se alimentam primeiro e em maior quantidade do que cães de posições inferiores na matilha. A forma mais apropriada de se oferecer alimento aos cães domésticos é em quantidades controladas, fracionadas durante o dia e em local separado, especialmente quando é uma situação de coletivo, como abrigos ou centros de controle de zoonoses (Faraco e Soares, 2013). O principal problema no coletivo é a agressividade relacionada com o alimento modulada pelo tipo de ração (qualidade), a forma como ela é oferecida (tipo de comedouros, quantidade, disponibilidade e condições ambientais no canil), gerando problemas no abrigo (conflitos e brigas entre os cães e mordeduras nos operários) e na adoção destes animais (Marder, 2015).

Os cães precisam naturalmente urinar e defecar para eliminação das sobras não utilizáveis, mas também empregam tais ações como uma forma de demarcação. O comportamento de micção é sexualmente dimórfico, com os machos geralmente levantando lateralmente o membro posterior e as fêmeas em geral, abaixando-o (Fraser e Broom, 2010). Segundo Manteca (2003), além de quaisquer anormalidades de postura durante a micção por causa de patologias, 3% dos cães machos e 2% das

fêmeas empregam a postura normalmente correspondente ao outro sexo ao urinar.

Em relação a postura de defecação, se apresenta de maneira semelhante nos dois sexos. A frequência de eliminação é modificada pelas alterações fisiológicas do aparelho digestivo ou urinário, mas também é modulada pelas emoções dos animais, principalmente pelos estados de ansiedade no animal, muito importante em situação do coletivo. Os cuidados corporais, também conhecidos como grooming, são partes importantes do comportamento de cães.

Os atos de lamber, mordiscar e coçar, além de serem úteis para o asseio do animal, são importantes para outras funções, como reduzir o estresse, e remover sujeiras, pelos mortos, ou ectoparasitas. Outro comportamento apresentado pelos cães é o de rolar na terra ou em outra superfície, seja para autolimpeza, ou como forma de (Faraco e Soares, 2013). O comportamento sexual dos cães tem início após a puberdade, que pode ocorrer a partir dos seis meses de idade aproximadamente, variando segundo o porte e a raça do animal. O ciclo estral das cadelas compreende as fases de estro, que é quando a fêmea apresenta receptividade sexual, com predomínio de estrógeno; metaestro, quando o corpo lúteo inicia suas funções; diestro, fase de predomínio da ação do hormônio progesterona, devido a atividade do corpo lúteo; proestro, quando ocorre a luteólise do corpo luteo, desenvolvimento folicular e aumento de estrógeno, iniciando um novo ciclo. A cadela passa ainda por uma fase de anestro, quando não está em nenhuma fase do ciclo estral. O comportamento de corte dos cães machos inicia-se quando percebem que há uma fêmea no cio, principalmente através do olfato e de feromônios. A cópula ocorre quando a fêmea, receptiva, aceita a monta pelo macho. A cópula em si tem duração curta, porém, a ejaculação é prolongada, motivo pelo qual os animais assumem a posição “posterior contra posterior” por um período de até 30 minutos (Faraco e Soares, 2013).

O comportamento materno das cadelas se inicia antes do parto, com a confecção de n ao nascimento dos filhotes.

No momento do parto, a cada filhote que nasce a cadela o lambe, e ingere os anexos fetais. Essa higienização de seu ninho, através da ingestão de fezes e urina pela cadela, é comum até que seus filhotes tenham a capacidade de urinar e defecar longe desse local. Os machos geralmente não compartilham com as fêmeas os cuidados com a prole (Faraco e Soares, 2013). Os cães gastam cerca de 50% do seu tempo e cerca de 20% do sono total em sono REM (Manteca, 2003). A postura do cão dormindo é deitar-se com a cabeça virada para um lado. Os cães podem movimentar-se e vocalizar durante o sono REM. Em geral, apresentam maior tendência a dormir durante as horas noturnas, mas podem se tornar ativos durante a noite se for necessário devido a caça de alimentos ou busca de um parceiro sexual (Fraser e Broom, 2010).

O comportamento social dos cães domésticos diferencia-se dos lobos, que se agrupam com uma hierarquia de dominância muito bem estruturada para caça e proteção mútua, nas condições de criação e domesticação, pois as principais fontes de possível competição entre os cães foram eliminadas (Eaton, 2010), e as relações sociais entre animais que partilham a mesma casa são fluidas e pouco hierárquicas (Case, 2008).

Porém, isso não exclui pequenas disputas, as quais estão associadas a uma falta de organização dos recursos por parte do proprietário. Outro fator que influencia muito o comportamento social dos animais é o estresse, e devido a isso, cães coabitantes podem sofrer diferentes níveis de ansiedade se o seu ambiente não for bem controlado (O’Heare, 2008). Alguns indivíduos podem estar mais aptos para partilhar, enquanto outros podem optar pela agressão (Yin, 2009), e a solução é oferecer a todos as mesmas oportunidades e benefícios, ou seja, regular bem todos os recursos disponíveis e oferecidos aos cães (Bradshaw et al., 2009). Além disso, a boa socialização no período adequado é a melhor forma de se obter um ambiente harmonioso entre os cães que coabitam e os humanos (Miller, 2011). Um cão que já habita na residência pode estar mais motivado a defender seus recursos se um novo membro for introduzido, devido a territorialidade. (O’Heare, 2008). As manifestações de dominância-submissão, caracterizadas por um repertório de sinais formais , não são com o propósito de alcançar uma posição social superior (Case, 2008), pois social no contexto doméstico. Um cão pode ser dominante ao acesso a dado alimento, mas subordinado a outro em relação aos espaços para dormir (Eaton, 2010). Um cão não necessariamente é dominante por ter melhor controle de alguns recursos oferecidos, porque ele pode estar mais interessado e motivado que o outro cão, sem precisar de qualquer disputa (van Kerkhove, 2004). Os comportamentos mais indesejados, que geralmente incluem latir excessivamente, saltos a chegada do proprietário, e falta de obediência, ocorrem porque, em algum momento, foram reforçados e recompensados, e também porque não foram substituídos por uma educação correta (American Veterinary Society of Animal Behaviour, 2008).

Em situação de Coletivo e para garantir o grau de bem-estar destes animais é necessário aplicar ao manejo estes conceitos etológicos, além de utilizar o comportamento animal como ferramenta para avaliar o estado emocional do coletivo e individualmente reconhecer as interações com humanos e outros animais, assim como identificar as anomalias comportamentais ou comportamentos indesejáveis. (Barnard etal., 2014).

Elen Monteiro da Silveira1

Laiza Bonela Gomes2 - CRMV 14.858

Sara Clemente Paulino Ferreira e Silva3CRMV 15.145

Néstor Alberto Calderón Maldonado4 - COMVEZCOL 03304


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