A violência contra animais de grande porte, especialmente eqüinos, esta relacionada ao uso destes animais em tração, quer seja rural ou urbana, para turismo com charretes ou transporte de carga (material de construção, entulho etc.). Além da própria natureza do trabalho ser abusiva, principalmente devido ao fato de existirem já formas alternativas, ecológicas e viáveis, a exploração dos animais é ainda mais abusiva na medida em que não qualquer controle no que diz respeito à quantidade de carga (peso), horas de trabalho e descanso, revezamento em estações quentes, atenção veterinária, alimentação e alojamento. A falta de cuidados médicos e condições sanitárias adequadas iniciam todo um ciclo de violência e abuso. Debilitado pelas doenças não tratadas nem prevenidas com vacinação, desnutridos e tendo trabalhado horas excessivas, Os animais se tornam cada vez mais fracos para o trabalho. A conseqüência inevitável é a ineficiência do animal, que leva ao freqüente espancamento do animal. A falta de tratamento médico
também leva a tentativas improvisadas de curas pelos próprios donos, o que em geral causa mais problemas de saúde.
Em uma busca simples na internet nos mostra o uso de animais de tração como carroças de transporte de carga e como charretes em pontos turísticos em todos os Estados do país; de norte a sul, no centro-oeste e no nordeste. Em pleno século XXI o uso desta forma de transporte inevitavelmente ocorre em áreas onde circulam também automóveis, coletivos e motocicletas. O resultado desta mistura são os freqüentes acidentes, que vitimam humanos e animais, e que constituem mais uma forma de maus tratos para com os últimos. Mesmo quando apenas se ferem, o que é raro pois em geral o que ocorre é a morte do animal, os donos geralmente não dispõem de recursos para tratamento. Os animais ultra explorados são em geral usados até o extremo da exaustão, sendo então abandonados a própria sorte, para morrerem de fome, ou serem vendidos para outros carroceiros ainda mais pobres para um novo ciclo de exploração. Alguns são vendidos para o abate ou recolhidos pelos CCZs locais ( quando existem) os quais acabam por vende-los para abate uma vez que os donos não os vem reclamar.
Um exemplo muito significativo encontra-se na Ilha de Paquetá, litoral do Rio de Janeiro, onde charretes são usadas como atração turística. Segundo a SEPDA a manutenção dos cavalos de forma adequada poderia sair por 500, no máximo 700 reais, sendo que a tarifa do passeio é de 100 reais. Mesmo assim os charreteiros alegam falta de recursos para manter um veterinário responsável pelos animais e para custear as vacinas necessárias. O alojamento dos animais esta em péssimas condições tendo já sido interditado e estado sujeito à deslizamento de encosta. Ainda assim, os donos dos cavalos nada fazem por seu mínimo bem estar, e já foram constatados diversos casos de espancamentos até a morte do animal e incidências de doenças contagiosas que exigem a eutanásia do animal. Atualmente existem diversos tipos de veículos alternativos e ecologicamente corretos disponíveis para substituição das charretes, como carros elétricos, e a ilha de Paquetá até mesmo já conta com 120 deles na forma de triciclos. Este caso ocorre em lugar do país onde há facilidade de fiscalização, engajamento de ativistas de defesa animal e recursos. Imaginemos o que ocorre em locais como o interior da Bahia, Aracajú, Manaus e mesmo no Paraná e Rio Grande do Sul. Nos locais mais pobres e interioranos nada existe entre a sorte dos animais e a vontade cruel de seus donos que possa protegê-los de crueldades. Não há sequer uma cultura de respeito à vida do animal, tratados como antes eram tratados os escravos, isto é, objetos. Em alguns Estados leis e transportes alternativos vêem ganhando espaço, um dos mais interessantes sendo o Projeto Cavalo de Lata (para transporte de carga), mas ainda há muita resistência às mudanças por parte dos donos de carroças e charretes, muitas vezes apoiados por uma população alienada e ignorante das verdadeiras condições de vida dos animais, e que acredita estar defendendo um aspecto cultural pitoresco de sua cidade.
De forma sintomática e até sinistra, em fevereiro deste ano autoridades ambientais de Araguari ( onde se localiza um dos 3 abatedouros de cavalos para exportação de carne do país) esteve em reunião com carroceiros que realizam trabalho de coleta seletiva de lixo para apóia-los em sua atividade, o que, no mínimo representa uma contradição em termos, digna de uma país cheio de absurdos e paradoxos como o Brasil