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O fumacê é eficaz no combate ao mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya? O fumacê faz mal

Compartilho nesse fórum discussão que provoquei junto à empresa que presta esse tipo serviço na vizinhança onde moro.

Fiz isso motivado pelas conversas com Mirco Solé Kienle na reunião da Academia Brasileira de Ciências em Minas Gerais e também pelos vários papos com amigos da UFRJ sobre o assunto.

Abaixo copio minha carta à empresa e sua resposta.

Peço aos colegas estudiosos do tema que contribuam na discussão. Penso que se trata de um serviço de utilidade pública.

Omiti o nome da empresa e seus produtos pois o objetivo aqui é discutir a eficácia do procedimento e não quem presta o serviço.

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MEUS QUESTIONAMENTOS:

Prezados,

Acumulam-se evidências sobre a ineficácia da aplicação do fumacê como forma de combate ao aedes aegypti.

Os mosquitos adquirem rapidamente resistência. E nesse sentido, seu uso semanal em nossa vizinhança pode contribuir bastante.

O fumacê não combate larvas, trata-se de um “adulticida”.

O fumacê traz riscos (neurológicos, câncer etc) para pessoas e não deve entrar em contato com alimentos.

É também tóxico para animais domésticos e silvestres e provoca desequilíbrio do ecossistema.

Deve ser restrito a períodos epidêmicos.

http://noticias.uol.com.br/…/la-vem-o-fumace-contra-o-mosqu…

http://jornalggn.com.br/…/especialistas-alertam-para-risco-…

http://g1.globo.com/…/aumenta-contratacao-particular-do-ser…

http://npic.orst.edu/factsheets/malagen.html#exposed

Uma alternativa seria a colocação de armadilhas e o controle larvar.

http://portal.fiocruz.br/…/entrevista-pesquisadora-defende-…

A propósito, seria possível informar por gentileza o nome do princípio ativo presente no fumacê?

Malathion ou lambda cialotrina?

https://www.atsdr.cdc.gov/phs/phs.asp?id=520&tid=92

http://www.toxipedia.org/displ…/toxipedia/Lambda-Cyhalothrin

Teria como conferir a data de produção do produto utilizado?

Pergunto pois após um ano de preparado, o malathion se transforma em isomalathion, o que é ainda mais tóxico:

http://healthycanadians.gc.ca/recall-alert…/…/59926a-eng.php

Gostaria que refletíssemos sobre alternativas ao combate de mosquitos em nossa vizinhança.

Coloco-me à disposição para participar de uma discussão e busca de alternativas.

Cordialmente

Stevens

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RESPOSTA DA EMPRESA:

Prezado Sr. Stevens, boa noite!

Seguem os esclarecimentos da empresa X referente ao e-mail enviado. Atenciosamente, Administração

Argumento 1: O efeito do fumacê é o contrário do que desejamos ou é a antiga solução que virou risco. O Fumacê é uma técnica de aplicação de inseticidas que é indicada no controle de insetos voadores de pequeno tamanho e grande potencial reprodutivo como mosquitos. Sua eficácia depende do tipo de inseticida utilizado, da regulagem correta da maquina, do horário e velocidade da aplicação, entre outros. Podemos dizer que é uma forma cara de matar mosquitos porque ela visa atingir os adultos que se dispersam no ambiente. Mas é um absurdo dizer que a técnica é contraria ao que desejamos.

No caso do Aedes aegypti há ainda o agravante de que como o mosquito passa quase a vida toda dentro de casa e em baixa altura, o fumacê pode realmente ter dificuldade de alcança-lo (muitas pessoas fecham as portas e janelas quando o fumacê passa). Mas como aplicamos na vizinhança por causa de Culex sp (outro mosquitos com hábitos completamente diferentes) que vive a maior parte do tempo foras das residências e que voa em muito maior altura.

Argumento 2: O fumacê traz riscos neurológicos / câncer para pessoas.

Realmente se faz muita polemica a respeito das aplicações espaciais de inseticidas sobre a toxicidade humana e a animais não alvo. No entanto, considerando-se a utilização dos protocolos internacionais deste tipo de aplicação (regulagem das maquinas para tamanho de gota e fluxo; velocidade de passagem; tipo de inseticida e horário da aplicação) não existe risco relevante a humanos e a animais não alvo.

Para sair um pouco da opinião do estado ou do município, vamos ver o a comunidade cientifica pode dizer a respeito:

Diversos estudos mostraram qual a quantidade de inseticida uma pessoa estaria exposta (pela pele e por inalação), mesmo se fosse uma criança que estivesse fazendo uma atividade física, apenas de calção e sem camisa, a 7,6 metros (25ft)) da passagem de um veiculo aplicando UBV: Petersonet al 2006; Macedo et al 2007; Schelier et al 2009; Schleier & Peterson 2010. Todos estes estudos consideraram o risco insignificante pois a soma quantidade inalada e em contato com a pele seria na pior medida 0,63% do limite aceitável de exposição DIÁRIA à permetrina de acordo com a EPA. Sendo que este limite é definido considerando-se 100 vezes mais rigoroso do que o NOAEL (No Adverse Effect Level - ou quantidade na qual nenhum efeito adverso foi notado depois da administração diária de determinado ingrediente ativo numa população controlada). O NOAEL, no caso da Permetrina (principal ingrediente ativo utilizado no UBV), por sua vez é três vezes mais rigorosa que o LOAEL (Lowest adverse Effect Level ) da mesma droga. Ou seja, O limite da EPA é 300 vezes mais rigoroso que o menor índice no qual apareceriam efeitos indesejáveis e a aplicação de UBV é até 150 vezes menor do que o limite da EPA.

Argumento 3: O inseticida passou a ser ineficaz e o Aedes aegypti já está resistente contra ele.

De fato, dos quatro inseticidas que o Ministério da saúde aprovou para as campanhas de saúde publica, o A aegypti já está resistente a três, resultando apenas o Malathion, talvez o mais agressivo de todos, com eficácia comprovada contra todos as cepas de A aegyti testadas. Isto certamente aconteceu por uso indiscriminado e continuado do mesmo inseticida, conforme atesta a reportagem. A diferença do que fazemos é que como rotacionamos os princípios ativos regularmente (coisa que o poder publico não faz) evitamos a seleção de populações resistentes de mosquitos. Outro detalhe é que diferentemente dos órgãos públicos, não estamos limitados a apenas quatro produtos. Utilizamos mais de oito produtos em rotação sistemática e não mudamos apenas as moléculas, mas mudamos também os grupos químicos, de forma a evitar até a resistência cruzada.

Há ainda mais duas questões a se colocar aqui:

1. Resistência é um atributo genético. Muito embora possa ser selecionado pelo homem, sempre estará restrito à espécie. No caso da reportagem os pesquisadores falam do Aedes aegyti resistente. Novamente, o foco das aplicações do condomínio são o Culex sp - outra espécie outras possibilidades de resistência. No caso do Culex sp, o mecanismo é o mesmo, mas estamos sempre monitorando a eficácia de nossas aplicações e alternando os inseticidas conforme o caso.

2. Resistência é um atributo populacional. No caso de insetos com baixa capacidade de voo, (o Aedes aegypti em ambiente urbano usualmente não voa mais de 300 metros) podemos ter a situação de ter uma população resistente em um local e sensível em outro. Ou seja: é absolutamente possível que o A aegyti de Campo Grande seja resistente a determinada molécula e que outra população na barra seja sensível. Na verdade vc somente consegue identificar isso com base em estudos com aninais coletados em campo ou a partir de observações de eficácia nas aplicações.

Argumento 4: O Fumacê só está indicado em situações de emergência no plano nacional de controle da dengue.

De fato, no Plano nacional de controle do A aegypti está focado na eliminação de criadouros removíveis, na conscientização popular e na aplicação de larvicidas de forma curativa (somente aonde larvas são identificadas ou mediante solicitação da população). O fumacê e outras aplicações de inseticidas residuais entra em cena somente quando o índice LIRA atinge 4%, ou seja, em situações de emergência. Isto está correto, é um procedimento bastante logico e sua utilização desta forma se deve a duas limitações principais:

1. É a forma mais cara de combate ao mosquitos e só vale a pena utilizar este recurso em caso de efetiva necessidade;

2. O recurso para aplicação - carro montado com equipamento de elevado valor também é escasso e o governo não tem veículos para aplicação sistemática em todas as áreas com presença do mosquito.

O errado é entender que o fumacê não funciona ou que seu efeito é contrario ao esperado. Se assim o fosse ele nunca seria utilizado no programa, ainda mais nos momentos de emergência, quando precisamos das ações mais efetivas possíveis!

Ainda como esclarecimento o fumacê é especialmente indicado nestes casos porque é a melhor ferramenta para o combate de adultos, ou seja, quando a situação já está instalada e o risco de epidemia é eminente ou já aconteceu, o fumacê é sempre a melhor escolha. Já quando a situação está controlada pode-se dar espaço a técnicas mais lentas e menos dispendiosas como a dispersão de larvicidas. A critica ao sistema do governo é que a avaliação deste risco ocorrem com base na inspeção de apenas 20% dos imóveis e que esta inspeção ocorre apenas a cada dois meses, com índices de infestação divulgados apenas a cada três meses.

Como o ciclo do mosquito pode ser de 12 dias no verão, até uma atitude ser tomada, poderíamos ter tido 9 gerações de mosquitos na área, ou seja, cada uma das fêmeas originais poderia potencialmente ter gerado 200^7 indivíduos ou seja 12.800 trilhões de mosquitos.

Argumento 5: O Fumacê mata os predadores naturais do mosquitos, agravando a situação:

Esta afirmação é a única que realmente não tem base científica alguma, mesmo tendo sido proferida por uma pesquisadora na reportagem. É fato que este argumento já foi difundido por diversos órgãos municipais na tentativa de justificar para a população a não utilização do fumacê. Mas vamos aos fatos concretos:

1. Quais são os predadores do A. aegypti? Pensando na forma larvar inicialmente: O mosquito se cria em água "limpa" e parada, normalmente água de chuva acumulada em recipientes artificiais no peri-domicilio. Usualmente os predadores de larvas são pequenos crustáceos e peixes, enfim organismos igualmente aquáticos. Estes predadores simplesmente não existem nos pontos aonde o mosquito se cria: Calhas de casas, lixo mal acondicionado, piscinas sem cuidado, vasos de plantas, ralos, pneus e etc. Mesmo que existissem, jamais um inseticida aplicado por fumacê teria efeito em um organismo aquático. O fumacê dispersa pelo ar e não pela água. é efetivo pras formas adultas e voadoras e não para as formas larvais aquáticas.

2. Ainda sobre predadores, vamos pensar nos predadores dos adultos agora. Considerando que o A aegypti não gosta de voar muito, voa normalmente em baixa altura e se encontrar humanos não deve sair de dentro de casas ou no máximo no quintal. Considere ainda que voa praticamente só durante o dia e se pergunte quem seria o predador dele? Morcegos que tem hábitos noturnos? Libélulas ou outros insetos insetívoros que só entram em casas por engano? Lagartixas que tem hábitos noturnos? aranhas que usualmente fazem teias a maior altura? Pássaros? Deve ter ficado claro que o habito desenvolvido por este mosquito excluiu os predadores naturais dele, sendo esta uma das razões do seu sucesso em disseminação pelo mundo. O A albopictus é um parente muito próximo mas ainda sofre com predadores porque não entrou nas casas de humanos ainda. Por isso não se disseminou de forma tão eficiente quanto o seu primo.

Mas ainda se imaginássemos que existissem predadores naturais ou mesmo alternando para Culex sp, este sim tem e sofre com predadores naturais de adultos. Ainda assim poderíamos recorrer a Peterson et al 2006; Macedo et al 2007; Schelier et al 2009; Schleier & Peterson 2010. Todos estes estudos consideraram (partindo do pressuposto que o equipamento esteja corretamente calibrado e aplicação dentro dos parâmetros definidos pela OMS) o risco ao ser humano ou a espécies não alvo, insignificante pois em organismos maiores, a soma quantidade inalada e em contato com a superfície corporal é insuficiente para causar efeito,

principalmente se o animal não estiver voando. No caso do ser humano, por exemplo, esta medida considerando estar todos os dias a aproximadamente 7 metros de distancia do carro fumacê quando ele passa aplicando, mesmo que a pessoa esteja se exercitando e sem roupas, corresponderia a apenas 0,63% do limite diário aceitável de exposição à permetrina de acordo com a EPA. Sendo que este limite é definido considerando-se 100 vezes mais rigoroso do que o NOAEL (No Adverse Effect Level - ou quantidade na qual nenhum efeito adverso foi notado depois da administração diária de determinado ingrediente ativo numa população controlada).

Ou seja não existe de fato nenhuma base cientifica para argumentar que o fumacê faz mal a saúde das pessoas ou mata os predadores de larvas ou de mosquitos adultos. Porque isso? Porque a semelhança de qualquer droga, a diferença entre medicamento e veneno é apenas a dose. Para um animal de baixíssimo peso corporal e em voo o fumacê carrega a dose letal mais do que suficiente. Porem para um predador que no mínimo será 20 ou 100 vezes maior que um mosquito ou algum inseto não alvo que não esteja voando, a dose transmitida pelo fumacê será insignificante.

É importante relembrar que no plano de controle de mosquitos implementado pela empresa estão prescritas não somente ações de controle de mosquitos adultos por aplicações espaciais por termo nebulização (Fog), mas também aplicações periódicas de larvicidas em pontos evidentes ou potenciais acumuladores de água, logo que possam servir de criadouros de larvas de mosquitos.

Além disso cabe relembrar que também oferecemos um plano de monitoramento e levantamento de risco para A aegypti, aonde de fato as aplicações de fumacê entram no escopo somente em situação de risco. O diferencial é que fazemos o levantamento em 100% das residências e a cada 15 dias, com índices divulgados mensalmente. o nome deste plano é X e ele foi desenvolvido pela empresa X pensando nos desafios do Rio de Janeiro contra o Aedes aegypti.

No mais ficamos a disposição para maiores informações e esclarecimentos e caso deseje podemos marcar uma palestra com nossa equipe técnica para os moradores do condomínio ou reapresentar o plano X!


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