Há uma diferença significativa de gastos se compararmos a criação de gado para corte e cavalos?
"Sim, comparado à criação de gado de corte, criar cavalos para corte seria completamente inviável, o cavalo demanda muito mais custos que os bovinos a começar pela sua péssima conversão alimentar, ou seja, o cavalo é muito mais difícil de engordar, depois pela sua alimentação extremamente seletiva ou seja, enquanto o boi é pouco seletivo e consome qualquer pasto, o cavalo é extremamente seletivo, ele não consome o que ele não gosta.
O bovino, por ser ruminante, é capaz de transformar mesmo uma alimentação de qualidade média ou ruim em proteína de boa qualidade pois as bactérias presentes no rumem fazem todo um trabalho de quebra dos alimentos em ácidos graxos, os quais serão efetivamente absorvidos pelo organismo dos bovinos, desta forma um alimento de qualidade inferior pode se tornar uma proteína de alto valor nutritivo, já o cavalo não é ruminante, ele é monogástrico, seu metabolismo é extremamente diferente comparado ao dos bovinos, os cavalos possuem um metabolismo mais parecido com o humano do que com o bovino, nisso ele não consegue transformar alimento de má qualidade em nutrientes de valor, isso também causa um aumento de custo significativo quanto à alimentação.
O cavalo é muito mais sensível que os bovinos, fica doente muito mais fácil, com muito mais frequência e é muito mais fácil algo dar errado, em outras palavras, gastos com veterinários são mais elevados, sem comentar que geralmente veterinários de cavalos atendem cavalos de esporte, lazer e companhia, nisso o valor cobrado pelo veterinário que atende um equino é muito maior do que o valor cobrado para um atendimento em uma criação de bovinos de corte, outro detalhe é que o veterinário de equídeos atende o indivíduo enquanto o veterinário que atende produções de bovinos de corte visa o coletivo, a saúde do rebanho é mais levada em consideração. O pasto é mais caro, a estrutura necessária à criação dos cavalos é muito mais onerosa, mesmo se pensar em raças grandes como Percheron, Clydesdale e Shire, ainda assim tudo isso citado é válido, mesmo um cavalo que atinge mais de 1 tonelada de peso tem uma conversão alimentar péssima comparada a de um bovino normal.
Outro fator é o tempo de crescimento do cavalo, um cavalo demora pelo menos 3 vezes mais que um bovino para crescer e, conseqüentemente, adquirir peso. Tudo são fatores que, levando em consideração tornaria inviável a criação de cavalos para abate.
Então, o que torna viável o abate de cavalos? Qual a procedência /origem desta carne?
Não há uma procedência especifica. Não há criação de cavalos para abate no Brasil, no entanto, assim como ocorre em vários países, são geralmente animais de descarte, seja descarte ainda no haras de criação quando o potro não atinge o potencial desejado, seja descarte de centros hípicos, jockeys, quando estes cavalos passam a perder desempenho ou a representar um custo de manutenção alto, seja até de proprietários que acabam vendendo estes cavalos para o próprio frigorífico ou para um intermediário ( neste caso muitas vezes sem saber que o cavalo será enviado ao frigorífico), isso considerando os parâmetros legais no entanto, é válido ressaltar que o descarte não necessariamente implica que estes cavalos sejam idosos ou estejam doentes, o descarte, ao contrário do que se pensa, pode ocorrer em qualquer idade.
Por outro lado, deve-se levar em consideração, a possibilidade de cavalos de carroça, cavalos abandonados e mesmo provenientes de roubos (abigeato) acabem em abatedouros.
A grande maioria dos cavalos abatidos são animais que foram descartados por algum motivo, dessa forma, muitas vezes o frigorífico adquire estes animais a custo muito baixo, muito menor do que ocorre em bovinos e as vezes até sem custo e reitero que esta situação (a atual, se tratando de equinos) é extremamente inadequada ao se considerar a produção de alimentos para consumo humano."
De uma forma geral nenhuma dessas procedências é ideal quando se pensa na utilização para alimentação humana visto que nenhuma delas representa um padrão que possa, com segurança, garantir condições mínimas necessárias para que um animal se enquadre nos padrões de qualidade de alimentos, de inspeção e normas sanitárias, próprias para consumo.
Como não é criado para abate ( este pode ser apenas um final alternativo à sua cadeia produtiva), não há um controle envolvido para garantir a melhor qualidade neste aspecto, não controle sanitário rígido, os medicamentos usados nestes cavalos podem ser do tipo que inviabiliza a qualidade para consumo, não muitas vezes registro histórico de medicamentos e doenças anteriores ou atuais nem de vacinação.
O cavalo é um animal geralmente uso para esporte, tração e tem um perfil mais PET, um animal de companhia, o que o coloca em uma categoria completamente diferente.
A própria situação de animal de tração e esporte por sua vez, implica em diversas situações de abuso e maus tratos, que além de prejudicar a qualidade da carne é por si só cruel, antiética e proibida pela Constituição Nacional que coloca todos os animais como tutelados da União e, portanto passiveis de proteção por parte do Estado.