Se muita gente é contra o abate de cavalos seria adequado deixar os cavalos em paz ao invés de gastar tempo, energia e dinheiro confrontando este público em uma guerra eterna, deixando de considerar outros problemas e situações, também importantes, que poderiam ser mais bem discutidos e trabalhados em prol de uma sociedade cada vez melhor.” “Acredito que, no final das contas, as pessoas devem ser menos egoístas com os interesses próprios e passar a pensar mais em uma situação mais coletiva, não há abate de cachorros porque a maior parte da população se sentiria ofendida e porque o cachorro não é criado para este fim, e tudo o que citei para cavalos valeria para os cachorros, da mesma forma, a maioria da população brasileira se sente ofendida com a ideia de se abater cavalos tanto é que os frigoríficos nem mesmo têm a intenção de divulgar o produto internamente, para estes vale mais a pena permanecer anônimo no Brasil pois assim as pessoas não irão reclamar do que confrontar um público tão grande. O cavalo, no final das contas é mais comparável ao cachorro na questão de sua criação, tratamento veterinário etc., do que ao boi”( Gabriel Schwartz, veterinário, USP).
Onde se lê cavalos, poderíamos ler jumentos.
O que estamos vendo é um velho fenômeno típico do Brasil. Modernização desordenada, imprevidência e ausência de poder público. No nordeste do Brasil não é de hoje que temos visto o aumento brutal do abandono de jumentos em troca por motocicletas, e com isso um crescente número destes animais passou a vagar pelas estradas, expostos a maus tratos, fome e causando acidentes.
Em vez de criar uma política eficiente e cumprir leis já existentes, fez-se vista grossa ao fenômeno. Agora que o incômodo chegou ao extremo, a solução é a de sempre (aquela que já vemos com cães e gatos deixados a procriar desordenadamente em cidades grandes e pequenas): o extermínio! Como ainda não chegamos ao ponto de comer cães e gatos (o que não deve demorar! Proponho que nesta linha de raciocínio, comamos também ratos e baratas para economizar medidas governamentais de controle de pragas!), os jumentos, com o terrível precedente do cavalo como possibilidade de alimento, agora esta na mira de um extermínio para virar alimento na mesa do brasileiro.
A medida tomada pelo promotor de justiça (?) de Apodi, RN, nominalmente visa alimentar presidiários, mas ninguém duvida que com o crescente fomento à indústria exportadora de carne de cavalo, a ideia de difundir o consumo da carne equina esteja nos planos futuros de alguns legisladores.
A medida “tapa-buraco” da ineficiência do controle e planejamento da população de jegues é apenas o começo. Ela em si não resolve nada em longo prazo, uma vez que o alvo é um numero determinado de animais abandonados, que um dia terá fim. Não se trata AINDA de criação para abate, até porque isso não é vantajoso economicamente.
Assim ao problema ético se junta o de saúde publica, ligado justamente ao fato de não serem animais criados para abate (o que também não é do agrado de ativistas pró-animais).Vejamos isso em mais detalhes:
Há vários fatores que podem tornar uma carne imprópria para consumo, isso é válido para qualquer tipo de carne não só equina. Quando se trata de cavalos há enormes diferenças em relação aos animais criados com a finalidade de produzir carne. A começar dizendo que o cavalo não é criado para abate, o abate, no caso de equinos não representa a finalidade de sua produção, porém sim um final alternativo à sua cadeia produtiva. Uma criação de bovinos nelore já é destinada à produção de carne ou genética; então há todo um controle envolvido para garantir a melhor qualidade neste aspecto, há um controle sanitário mais rígido, os medicamentos que os veterinários usam são especificados, há um registro com o histórico de medicamentos e casos enfim, tratando-se de gado de corte, há um controle extremamente rigoroso e detalhado de tudo o que acontece, tudo é documentado e se houver falha em algum destes documentos ou alguma informação estiver faltando ou for duvidosa o animal já não pode entrar na alimentação humana. Quando se trata de cavalos isso já não acontece, o Brasil não cria cavalos para corte, cavalos são criados pela sua aptidão esportiva e seu valor se baseia não só nos padrões da raça como também, em suas probabilidades de sucesso em carreira esportiva ou seu histórico de competições, se tornando, então, um reprodutor de alto valor.
Isso já muda tudo, primeiro porque uma vez que o cavalo não é criado para corte, não há restrições de medicamentos que o veterinário pode utilizar, segundo que, pelo mesmo motivo, não há um controle de medicamentos nem de doenças tão rigoroso quanto ocorre em criações de corte.
Com base nisso várias situações são criadas que tornam a carne de cavalo imprópria para consumo. A começar pelo controle e registro veterinário. Não há uma procedência específica. Não há relatos de criação de cavalos para abate no Brasil, no entanto, assim como ocorre em vários países, são geralmente animais de descarte, nenhuma dessas procedências é ideal quando se pensa na utilização para a alimentação humana visto que nenhuma delas representa um padrão que possa, com segurança, garantir condições mínimas necessárias para que um animal possa ser considerado, dentro de padrões de qualidade de alimentos, de inspeção e normas sanitárias, próprio para consumo.
Há doenças específicas e metabolismo específico.Sabe-se que os equinos eventualmente tornam-se portadores de doenças transmissíveis aos homens (zoonoses), dentre as principais, estão a raiva, a leptospirose, a brucelose, a tuberculose, a febre maculosa e a doença de Lyme ou borreliose.