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Depoimento de um veterinário

Há tempos vejo tretas rolando dentro e fora da minha timeline por causa do assunto 'proibição da vaquejada'. Quem defende a prática só usa argumentos de que é cultura e que há geração de renda e pessoas vão ficar desempregadas... Argumentos bem ruins, visto que as origens da vaquejada remontam apenas ao pastoreio do gado e, até onde sei, a prática de pastorear animais não foi proibida - inclusive vou falar disso mais adiante.

É estranho afirmar que a vaquejada como se faz hoje é cultura, uma vez que começaram a transformar em empreendimento ações que eram locais locais e voltadas ao manejo de animais.

No que diz respeito a 'geração de renda', os eventos agropecuários favorecem geração de renda, seja com seus shows, seja com a venda e exibição de animais, à gastronomia feita por quem 'trabalha na roça'. Eventos sem bois sendo derrubados continuarão a ter um público. Teve gente apelando para vídeo de uma pequena cidade de Pernambuco, que tem a economia baseada em produção de artigos de couro e aço, usando-o como um meio de dizer que essas pessoas ficarão sem ter porque continuar produzindo suas peças. A atividade de pastoreio e cuidado com os animais de produção e esportes sem agressão aos animais vai continuar. O cara não vai ser demitido porque a função dele era cuidar do cavalo para vaquejada. A criação de gado continuará para outros fins - que é a maior fatia da produção.

Baseado nisso, eu pergunto: os caras lá de Pernambuco só produzem as selas e arreios para vaquejada? Só quem participa dessa atividade usa esses equipamentos? Os vaqueiros que tocam o gado, que cuidam do gado no pasto sentam no cavalo sem nenhuma sela? O gibão não é uma proteção pro vaqueiro na mata? Ou seja, selas, arreios, ferraduras, esporas e afins continuarão tendo demanda, pois cavalos são usados para outros fins e gados são produzidos para outros fins.

O que eu achei mais absurdo foi a manipulação dos senhores feudais (as pessoas com grana para pagar 50 - 100 mil reais num cavalo) sobre os seus vassalos, induzindo- os a agir como se não houvesse mais nenhuma necessidade na função deste último caso não seja mais permitida a agressão dos animais.

Rolou uma manifestação aqui em São Luís e no interior do Maranhão. Só vi gente de camisa polo, botas lustradas e cavalos bem cuidados. Não vi nenhum 'peão' - caso não saibam, esses senhores feudais, que agora clamam pelo 'emprego' de seus vassalos, chamam eles assim, pois dessa maneira separam a casa grande da senzala.

E na rádio Senado tive o desprazer de ouvir o sr. Bira do Pindaré dizer que não entende como as pessoas não proíbem as lutas de boxe e MMA, afinal, elas envolvem agressão...

Não sei se ele sabe que é ilegal você por duas pessoas para lutarem sem que elas escolham lutar, pô-las para lutar apenas para o deleite de uma plateia.

Ouvi também que o gado é bem cuidado porque ele precisa estar saudável para poder correr e que quem faz isso é o vaqueiro. Meu ouvindo sangrou, afinal, é totalmente correto eu laçar o animal e puxá-lo enquanto ele foge só porque eu lhe dou água, comida, vermífugo e pago alguém para dar esses cuidados. Em humanos o nome disso é trabalho escravo. Tipo, vou pegar uma pessoa fazê-la trabalhar aqui em casa, me sentir no direito de agredi-la quando eu quiser em troca de água, comida, um quarto e uma televisão. Acho bem digno!

O CFMV se posicionou contrário à vaquejada e tem veterinário dizendo que o conselho deve fiscalizar os veterinários que fazem doping em animais esportivos. É triste ler isso, a pessoa defender o errado usando como justificativa um 'erro' do Conselho.

Só para terminar, não estou dizendo que os animais são violentados e descartados porque me disseram. Sou veterinário e participei de uma aula prática em uma vaquejada. Nesse dia um estúpido derrubou o bezerro, que ficou lá caído e cansado, não bastando isso, ele lançou seu cavalo sobre o bezerro, para assustá-lo. Na reação de tentar correr, o bezerro fraturou a pata traseira, andou um pouco a arrastando e caiu novamente. Ficou lá até que um trator surgiu para arrastá-lo com correntes. Nenhum analgésico foi administrado, nenhum veterinário se moveu e as pessoas, especialmente os 'esportistas', tinham orgasmos com aquilo.


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