Na tentativa de validar a argumentação de apoio à causa do veganismo/vegetarianismo, muitas pessoas acham que recorrer a uma validação científica fornecerá o apoio necessário, mas acabam por divulgar informações equivocadas ou incompletas.
O problema todo se concentra no questionamento ou na suposição de que o tipo de alimentação humana é determinado pelo tipo de dentição comparando para isso, com a dentição de outros animais. Nesta linha de raciocínio questiona-se também a categoria a que pertenceria o ser Humano entre herbívoros, onívoros ou carnívoros.
Na verdade inúmeros exemplos invalidam a teoria de há um determinismo biológico que ateste que a existência de dentes caninos desenvolvidos aponta para um animal de hábitos alimentares carnívoros enquanto animais com predominância de dentes molares indicam alimentação herbívora. A Natureza é muito mais flexível e variada do que se imagina.
Em primeiro lugar temos que ressaltar a questão da função da dentição dos animais. Além de terem apenas a função de obter e mastigar alimentos, devemos nos lembrar de que outras estruturas anatômicas estão envolvidas na captura de alimentos. A forma de apreensão do alimento não é apenas uma questão da estrutura dentária: cães e gatos também fazem uso da parte anterior do corpo; bovinos usam a língua, os lábios e a cabeça; ovinos usam o lábio superior; pequenos ruminantes usam a língua e os dentes incisivos; equinos, usam lábios, cabeça e língua e suínos, lábios e língua.
Outra característica fisiológica importante é a capacidade de vomitar a comida, que difere bastante. Carnívoros e onívoros (menos os roedores) vomitam com facilidade, ruminantes passam o bolo alimentar de volta ao pré estomago, não chegando até a boca e cavalos é muito raro vomitarem.
Podemos examinar alguns casos em que a dentição, pode levar a conclusões errôneas.
ELEFANTES
Sua alimentação é baseada em folhas de plantas e árvores, podendo consumir até 225 kg de folhas diariamente. Também podem beber cerca de 200 litros de água por dia. A digestão do alimento não é completa, o que significa que sementes das plantas consumidas podem passar por todo o trato digestivo sem serem destruídas. Isto contribui para a dispersão das sementes, que crescerão em meio às fezes do elefante – que é altamente nutritiva para as plantas.
Sistema digestivo
A quantidade de comida que um elefante africano consome por dia corresponde a aproximadamente 5% do seu peso. Esses animais podem comer por até 16 horas em um único dia. O comprimento total do seu intestino é de aproximadamente 35 m. Os elefantes comem uma grande variedade de matéria vegetal, mas seu sistema digestivo digere apenas cerca de 44% dos alimentos com sucesso. Esse sistema digestivo relativamente ineficiente leva esse grande mamífero a produzir cerca de 160 kg de fezes por dia
O elefante-da-floresta é herbívoro e geralmente come folhas, frutos, cascas e, ocasionalmente, visita depósitos de sal e os lambe.
RINOCERONTES
O rinoceronte branco é herbívoro e consome vastas quantidades de vegetação para ganhar a energia de que precisa.
Dieta
O rinoceronte branco é um animal herbívoro, consumindo uma dieta formada por diversos tipos de pasto, como a grama dos gêneros Panicum e Urochloa.
Volume de comida
Os tipos de alimentos que o rinoceronte come têm baixo valor nutricional. Isto significa que este animal deve comer grandes volumes de alimento durante longos períodos para ganhar a quantidade de energia de que precisa. O rinoceronte branco passa cerca de metade do seu dia comendo e pode consumir até 16 kg de vegetação ao longo de um período de 24 horas.
Os músculos dos lábios do rinoceronte branco também são fortes e facilitam o trabalho de pastar, apesar de estes animais não terem dentes caninos ou incisivos. O rinoceronte branco também pode usar seu chifre para procurar alimentos. Se a grama se tornar curta demais para a pastagem do rinoceronte, seu chifre pode ser usado para arrancar a grama remanescente antes que ele use seus lábios para reunir a vegetação. O rinoceronte branco tem quatro dentes molares, dois em cima e dois embaixo. Estes dentes planos são usados para quebrar a grama antes que ela seja engolida.
Sistema digestivo
O rinoceronte branco tem um sistema digestivo eficiente para ajudá-lo a ganhar o máximo possível da vegetação de baixo valor energético que ele consome. Vegetais resistentes como a grama são fermentados dentro de parte do estômago, permitindo que o rinoceronte branco decomponha vegetais mais fibrosos. Por causa das grandes quantidades de alimentos consumidos, o rinoceronte branco também produz grandes quantidades de estrume, que servem ao propósito adicional de mercar território.
HIPOPÓTAMOS
Apesar de tudo, os intestinos dos hipopótamos não estão preparados para digerir carne, A maioria dos animais herbívoros contam com dentes incisivos afiados para retirar cuidadosamente a parte de cima da vegetação. Os hipopótamos de fato têm incisivos longos e caninos, mas sua função é de combate, não para cortar a vegetação.
Outro fato importantíssimo, se não mais importante é o da capacidade digestiva dos animais em relação àquilo que consomem.
A digestão nada mais é que a hidrólise enzimática para a absorção pelas células intestinais. As proteínas necessitam de um meio ácido para serem decompostas, por isso o pH do estomago humano é ácido , onde a digestão se dá principalmente pala ação do ácido clorídrico. O suco pancreático é básico e serve para preparar o bolo alimentar para chegar ao intestino com acidez mais baixa, ou as bactérias intestinais seriam prejudicadas. Uma população de bactérias do intestino é responsável pela produção de vitaminas B12, K, tiamina e riboflavina.
Bovino herbívoro ruminante Humano
A fermentação é alta nos herbívoros e ocorre no estômago especialmente no caso dos ruminantes que dependem dela para conseguir absorver os nutrientes. Herbívoros podem ou não ser ruminantes. Existem animais pseudo-ruminantes como o camelo. Entre aqueles que são ruminantes estão os bovinos, búfalos, girafas ovelhas, renas, antílopes entre outros.
Entre os animais que não são ruminantes estão o ser humano, equídeos coelhos e suínos. Os animais citados são capazes de se alimentar de vegetais como herbívoros ou como onívoros.
No caso dos carnívoros a fermentação é baixa e ocorre no intestino. Há mais ação de enzimas no estomago cujo pH é bem ácido, como no caso de gatos.
Os onívoros apresentam fermentação média que ocorre no intestino.
Primeiramente os animais comem para se manterem vivo, logo, lhes é impossível consumir alimentos que sejam venenosos para eles e alimentos que sejam incapazes de digerir, mesmo que sejam capazes de caça-los ou mastigá-los. Eles comem aquilo que sua estrutura dentaria é capaz de caçar/pastar/coletar e que sejam capazes de digerir.
Digerir significa que são capazes de decompor e hidrolisar um alimento de modo que seu organismo possa transformar em energia, que por sua vez irá ser transformada em elementos capazes de ser armazenada no corpo e se transformar em suas estruturas físicas (músculos, ossos, órgão) ou manter o funcionamento destas (sintetizar hormônios, enzimas, proteínas de transporte e anticorpos.).
O conjunto formado por dentes, capacidade de digestão e assimilação dos elementos ingeridos será determinante para o tipo de alimentação que estarão capazes de consumir. Trata-se de uma adaptação mútua e ajustável de processos físico-mecânico e químico.
Como vimos nos exemplos acima os animais podem ser surpreendentemente flexíveis quanto ao tipo de alimento que consomem relativamente independente da morfologia de seus dentes. Podemos, no máximo, falar em divisões estritas na relação dente/alimento de forma muito generalizada.
Leão carnívoro estrito
Herbívoros estritos podem ter uma variedade de dentes, mas comerão apenas aquilo que seus sistemas digestório forem capazes de processar da forma mais eficiente para mate-los vivos e saudáveis. O mesmo vale para carnívoros e onívoros.
Basicamente esta capacidade de processar e assimilar os alimentos por meio do processo digestivo significa possuírem estruturas físicas (forma o estomago, do intestino etc.) e químicas (tipos de enzimas digestivas que podem produzir e hormônios para comandar diversos processos, e a fermentação que ocorre nos herbívoros ruminantes ou não).
Para esclarecer melhor vejamos os animais que tipicamente são apresentados como exemplos de saúde e força por serem vegetarianos. Alguns esclarecimentos seriam muito interessantes.
As vacas, representantes dos herbívoros estritas ruminantes. Convém saber o que significa ser ruminante, e as questões fisiológicas que estão implicadas. Como herbívoras, parte da digestão é fita no rumem pela ação bacteriana implicando em fermentação passando depois para uma faze enzimática. No rumem é ação bacteriana que permite sintetizarem celulase que hidrolisa a celulose formando glicose que absorvida pelo animal. Este processo não ocorre no ser humano que perde toda esta glicose por não ser capaz de absorver a glicose contida na celulose.
Vacas, são mamíferos herbívoros ruminantes, precisam de proteínas. De onde retiram as proteínas? De alimentação vegetal. Nem vou entrar na questão de que tipo de vegetal, pois seria apenas para encher de nomes complicados de botânica. Isto PROVA que alimentos vegetais possuem proteínas? Não. Um exame de química analítica demonstraria isso da mesma forma.
Sim, vegetais possuem proteínas. MAS as vacas são um dos tipos de animal que consegue extrair proteína dos vegetais. Por quê? Devido a seu processo digestivo. Primeiro, possuem um estomago compartimentado, segundo são ruminantes, terceiro, associado a isto possuem ENZIMAS DIGESTIVAS capazes de PROCESSAR CELULOSE. Possuem também uma quantidade de bactérias, protozoários e até fungos que humanos não possuem, e são especializadas em PROCESSAR CELULOSE. As bactérias não estão presentes desde o nascimento do animal, devem ser inoculadas por contato com o solo; lambidas da mãe, contato com esterco.
Antes de qualquer coisa é preciso diferenciar CELULOSE de FIBRAS ALIMENTARES. As vacas, em seu longo processo de digestão das plantas e grãos que comem, usam suas enzimas e micro-organismos específicos para processar a celulose (parte das células vegetais). Em outras palavras, a celulose ingerida é aproveitada por seu organismo. As enzimas e as bactérias específicas que possuem conseguem degradar esta celulose e retira dela PROTEÍNAS! As vacas ainda assim, expelem fibras, basta dar uma boa olhada nas fezes e ver os “restos” de capim presentes.
Seres humanos não possuem enzimas ou bactérias capazes de fazer isso. Não aproveitam completamente tudo o que existe nos vegetais que ingerem. Isto pode ser compensado por nosso engenho, criando suplementos que nos permitem viver com saúde comendo vegetais apenas. MAS isso não nos torna vegetarianos por fisiologia e sim POR ÉTICA E ENGENHO.
Pode parecer uma distinção sutil e até irrelevante para quem pensa apenas nos fins alcançados. Mas o fato é que por ÉTICA novamente, é faltar com a verdade chamar-nos herbívoros já que sem uma interferência artificial não poderíamos tirar dos vegetais a MESMA QUANTIDADE de proteínas de um herbívoro ruminante.
Ainda que tivéssemos apenas molares na boca não conseguiríamos extrair proteínas nem sisntetizar vitamina B12 e K de uma alimentação vegetariana sem usar suplementos. Para o crescimento normal e boa saúde ao longo da vida, a espécie humana requer oito aminoácidos que seu organismo não pode fabricar, além da vitamina B 12 e alguns minerais essenciais. A única fonte viável desses aminoácidos e de vitamina B 12 é a proteína animal. Dessa forma não podemos nos classificar como vegetarianos naturais. È comer carne ou tomar suplementos. Por ÉTICA, COMPAIXÃO E EMPATIA, ESCOLHEMOS os suplementos!!
Cavalo, presença de caninos , herbívoro
Suíno, onívoro
Outro animal muito usado como exemplo de que o consumo de vegetais apenas é capaz de suprir as necessidades de proteínas de nosso organismo são os gorilas e outros macacos.
O Gorila é maior dos antropóides. Pode chegar a 2m de altura e pesar 300 kg.Classe: Mamíferos Ordem: Primatas Família: Pongideos Espécie: Gorilla gorilla.
Apesar do seu tamanho e aparência um tanto assustadora, sua alimentação é exclusivamente vegetariana. Em alguns lugares o solo é rico em cálcio e potássio, e na estação seca, os gorilas cavam o solo rico em sais e comem-no. Gorilas das montanhas, uma das espécies que há, chegam a comer insetos (uma das fontes de maior concentração de proteína animal). A dentadura dos gorilas é extraordinária: particularmente os caninos, que são como os dos grandes carnívoros predadores e que podem causar ferimentos mortais. São usados para defesa e enfrentamentos contra agressores do bando.
Um equívoco sobre a dieta dos gorilas é de que ela não contém nenhum produto de origem animal. Pelo contrário, todos os grupos dos grandes primatas ingerem alguma proteína animal, ou de forma direta ou inadvertidamente, pelo consumo de insetos, ovos de insetos e larvas que nidificam nas plantas e frutas que comem. Ao contrário dos humanos, o trato digestivo dos gorilas está equipado para fabricar os aminoácidos essenciais e outros nutrientes vitais.
Em seu trabalho pioneiro sobre os chimpanzés, Jane Goodall descobriu, para sua surpresa, e para o espanto do resto do mundo, que os chimpanzés matam e comem outros macacos para fazer uma ferramenta para extrair cupins de seus montes (as moradia de cupins), e que eles fazem um esforço considerável para a obtenção desses alimentos. É também significativo que a carne é o único alimento que partilham com outros chimpanzés.
O Zoológico Nacional em Washington tentou nutrir uma raça quase extinta de um sagui dourado frutívoro da América do Sul em cativeiro, sem resultado, mas quando adicionaram um pouco de proteína animal à sua dieta, eles começaram a procriar, o que provaria que eles requerem uma pequena quantidade de proteína animal para serem saudáveis e se reproduzirem.
Outros Primatas
Primatas exploram uma ampla variedade de recursos alimentares. Primatas da subordem Strepsirrhini são capazes de produzir a vitamina C, como outros mamíferos, o que não ocorre nos integrantes da subordem Haplorrhini. Por exemplo, comedores de folhas como os bugios, macacos do gênero Colobus e lêmures da família Lepilemuridae possuem tratos digestivos longos que os tornam capazes de absorver nutrientes desses itens alimentares que são difíceis de digerir.
O gelada é o único primata que se alimenta primariamente de grama.
Dentição do herbívoro macaco Gelada
Társios são os únicos primatas viventes que são carnívoros obrigatórios, se alimentando exclusivamente de insetos, crustáceos, pequenos vertebrados, Macacos-pregos podem explorar muitos tipos diferentes de matéria vegetal, incluindo frutas, folhas, flores, brotos, néctar e sementes, mas também comem insetos e outros invertebrados, ovos de aves e pequenos vertebrados, como pássaros, lagartos, esquilos e morcegos e cobras (inclusive, espécies peçonhentas).
Társios não apresentam caninos e são carnívoros esritos
O chimpanzé-comum possui uma dieta variada e é predador de outras espécies de primatas.
Também nunca é demais lembrar que, da mesma forma como passamos a comer carne, seja pelo motivo que for, podemos simplesmente parar de ingerir este tipo de alimento.
CONCLUSÃO:
Não podemos afirmar que possuir caninos desenvolvidos é condição ou característica indispensável para alimentação carnívora. Não podemos afirmar que a falta de dentes caninos retermina a condição de herbívoro de qualquer animal.
O tipo de dente e de arcada dentária deve ser considerado juntamente com a capacidade do aparelho digestório de processar com eficácia a alimentação consumida, aproveitando o máximo possível dos nutrientes.
O Homem é onívoro e esta é a condição ideal e a que mais facilmente permite a liberdade de escolher o que consumir como alimento, permitindo que nos baseemos em preceitos éticos Onívoros aproveitam um espectro maior de alimentos disponíveis, o que facilita as substituições alimentares que outros animais estritamente herbívoros ou carnívoros não poderiam fazer mesmo que quisessem.
É preciso considerar a capacidade humana de criar suplementos artificiais de modo a poder o que comer e dispensar a proteína animal.
Não existir um determinismo dentário permite flexibilidade de alimentação.
Não podemos confundir a ideia de ser capaz de processar a proteína da carne com a ideia de não podemos abandonar o seu consumo ou ser obrigado a consumi-la.
O abandono do consumo de proteína animal é VOLUNTÁRIO ditado por um imperativo ÉTICO, pela COMPAIXÃO e pela EMPATIA.
Não é correto usar um cientificismo incompleto e falho para justificar uma decisão Ética, pois isso diminui o valor da Ética e da Liberdade humana. Não precisamos buscar na ciência motivos e justificativas para atitudes baseadas em ética e livre arbítrio.
A biologia é flexível e está em constante mudança e adaptação, exemplo disso é que o dente canino humano se atrofiou com o tempo devido a mudança do consumo de carne crua por cozida e ao mesmo tempo, o dente de siso que tem um formato adequado para mastigar vegetais esta praticamente sumindo e as pessoas cada vez mais tendem a nascer sem eles.
Se a dentição e a capacidade de digestão têm alguma influencia na alimentação ela apenas permite, mas não obriga um determinado tipo de alimentação.
Se fossemos herbívoros naturais, a ingestão de carne seria praticamente impossível e inviável a médio e longo prazo. E teríamos capacidade de extrair proteínas da celulose vegetal, o que não conseguimos fazer completamente por falta de enzimas adequadas para aproveitar integralmente esta fonte.
A função dos dentes caninos não se restringe à caça e a alimentação, eles também são usados para defesa e ataque, proteção do grupo, intimidação de oponentes e rivais de acasalamento.
A forma de digestão e aproveitamento dos alimentos tem mais influência do que a dentição na escolha ou determinação do alimento consumido.
SEJA VEGANO, POR ÉTICA, COMPAIXÃO E EMPATIA!